Section 2 Matrizes
Utilizamos matrizes ampliadas para resolver sistemas lineares nas seções anteriores. Nessa seção começamos a explorar outras aplicações de matrizes para estudar e resolver sistemas lineares. Ao fazer isso estamos criando uma estrutura que nos permite estudar transformações lineares e susas diversas aplicações.
Subsection 2.1 Matrizes e operações
Nessa seção formalizamos o conceito de matriz (que já temos utilizados) e como realizar operações aritméticas com elas.
Definition 2.1.
Uma matriz \(A = (a_{ij})\) \(m \times n\) é um arranjo de \(mn\) números (reais ou complexos, usualmente) em \(m\) linhas com \(n\) números cada.
Denotamos de \(a_{ij}\) o número que está na \(i\)-ésima linha e \(j\)-ésima coluna e dizemos o elemento \(ij\) da matriz \(A\text{.}\)
As matrizes \(m \times 1\) são chamadas de vetores (coluna) e denotadas \(\vec{a}\text{:}\)
Uma matriz \(1 \times n\) é um vetor linha: \(\vec{a}^T = (a_1, a_2, \ldots, a_n)\text{.}\)
Definition 2.2.
Duas matrizes \(A = (a_{ij})\) e \(B = (b_{ij})\text{,}\) ambas \(m \times n\text{,}\) são iguais se \(a_{ij} = b_{ij}\) para todo \(i \in \{0,1,2,\ldots,m\}\text{,}\) \(j \in \{0,1,2,\ldots,n\}\text{.}\) Por outro lado, \(A \neq B\) se existem \(i,j\) tais que \(a_{ij} \neq b_{ij}\) ou se as matrizes têm dimensões diferentes.
A soma de duas matrizes \(A = (a_{ij})\) e \(B = (b_{ij})\text{,}\) ambas \(m \times n\text{,}\) é a matriz \(C = (c_{ij})\text{,}\) \(m \times n\text{,}\) definida por \(c_{ij} = a_{ij} + b_{ij}\text{.}\) (somamos apenas matrizes com o mesmo número de linhas e colunas) Análogo para subtração.
O produto de um número real \(\alpha\) e uma matriz \(A = (a_{ij})\text{,}\) \(m \times n\text{,}\) é a matriz \(C = (c_{ij}),\) \(m \times n\text{,}\) definida por \(c_{ij} = \alpha a_{ij}\text{.}\)
O produto de uma matriz \(A = (a_{ij})\text{,}\) \(m \times n\text{,}\) e outra matriz \(B = (b_{ij})\text{,}\) \(n \times r\text{,}\) é a matriz \(AB = (c_{ij}),\) \(m \times r\text{,}\) definida por \(c_{ij} = a_{i1} b_{1j} + a_{i2} b_{2j} + \cdots + a_{in} b_{nj}\text{.}\) (o número de colunas de \(A\) precisa ser igual ao número de linhas de \(B\)).
A \(n\)-ésima potência de uma matriz quadrada \(A = (a_{ij})\text{,}\) \(m \times m\text{,}\) é a matriz \(A^n : = A \ldots A.\) (o prudoto de \(n\) cópias da matriz \(A\)).
Example 2.3.
Sejam
Determine se é possível realizar as seguintes operações. Caso seja, determine o resultado
\(\alpha B\text{;}\)
\(\beta \vec{v}\text{;}\)
\(A + B\text{;}\)
\(B - D\text{;}\)
\(2\vec{v}-3\vec{u}\text{;}\)
\(AB\text{;}\)
\(BA\text{;}\)
\(\displaystyle A\vec{u}\)
Os códigos a seguir podem ser utilizados para realizar operações básicas com matrizes.
Matrizes no Python.
Matrizes de zeros e uns.
Mostrar linhas ou elementos.
Soma e produto.
Checkpoint 2.4.
Sejam
Determine se é possível realizar as seguintes operações. Caso seja, determine o resultado
\(\displaystyle \alpha B;\)
\(\displaystyle \beta \vec{v};\)
\(\displaystyle A + B;\)
\(\displaystyle B - D;\)
\(\displaystyle 2\vec{v}-3\vec{u};\)
\(\displaystyle AB;\)
\(\displaystyle BA;\)
\(\displaystyle A\vec{u};\)
\(\displaystyle C\vec{u}.\)
Example 2.5.
Para as matrizes
temos
Checkpoint 2.6.
Para as matrizes
calcule
Example 2.7.
No estudo de uma doença consideramos as pessoas de uma determinada população divididas em 3 grupos: saudáveis (S), doentes (D) e resistentes (R). Suponha que temos uma população inicial de 90.000 S e 10.000 D. Além disso suponha que, a cada ciclo da doença, \(10\%\) das pessoas saudáveis ficam doentes, nenhuma adquire resistência antes de ficar doente, \(10\%\) das doentes morrem, \(30\%\) das doentes se recuperam e adquirem resistência, as outras doentes continuam doentes, \(50\%\) das pessoas com resistência permanece com a resistência e \(50%\) das pessoas com resistência, perde a resistência (mas continua saudável).
Qual o total de pessoas em cada categoria (SDR) após 1 ciclo, após 2 ciclos, após 10 ciclos e após 50 ciclos?
Checkpoint 2.8.
No estudo de uma doença consideramos as pessoas de uma determinada população divididas em 3 grupos: saudáveis (S), doentes (D) e resistentes (R). Suponha que temos uma população inicial de 90.000 S e 10.000 D. Além disso suponha que, a cada ciclo da doença, \(20\%\) das pessoas saudáveis ficam doentes, nenhuma adquire resistência antes de ficar doente, \(5\%\) das doentes morrem, \(30\%\) das doentes se recuperam, \(30\%\) das doentes se recuperam adquirem resistência, as outras doentes continuam doentes, \(80\%\) das pessoas com resistência permanece com a resistência e \(50%\) das pessoas com resistência, perde a resistência (mas continua saudável).
Qual o total de pessoas em cada categoria (SDR) após 1 ciclo, após 2 ciclos, após 10 ciclos e após 50 ciclos?
Subsection 2.2 Representação Matricial e Multiplicação de Matrizes
Observamos no exemplo 2.5 que
desse modo, o sistema linear
é equivalente à equação matricial
onde \(\vec{b}\) é o nome que damos ao vetor \((b_1, b_2, \cdots, b_m)\text{.}\) Assim um sistema linear pode ser escrito na forma \(A\vec{x} = \vec{b}\text{.}\) Chamamos essa forma de forma matricial do sistema. Isso é particularmente importante pois é análogo à equação linear \(ax=b\text{,}\) cuja solução é \(x=b/a\text{.}\)
Theorem 2.9. Propriedades das operações básicas.
Dados \(\alpha, \beta \in \mathbb{R}\) e matrizes \(A, B\) e \(C\text{.}\) Então, se as operaçõesa seguir estiverem definidas (as dimensões das matrizes forem adequadas para permitir as operações), vale:
\(\displaystyle A + B = B + A, \)
\(\displaystyle (A + B) + C = A + (B + C), \)
\(\displaystyle (AB)C = A(BC), \)
\(\displaystyle A(B+C) = AB + AC, \)
\(\displaystyle (A+B)C = AC + BC, \)
\(\displaystyle (\alpha \beta) A = \alpha(\beta A), \)
\(\displaystyle \alpha(AB) = (\alpha A)B = A(\alpha B), \)
\(\displaystyle (\alpha + \beta) A = \alpha A + \beta A. \)
Proof.
Checkpoint 2.10.
Para cada uma das propriedades no Theorem 2.9, dê exemplos de constantes e matrizes para as quais as operações fazem sentido. Em seguida calcule o lado esquerdo e o lado direito de cada igualdade e verifique que o mesmo resultado é obtido. Verifique seua cálculos utilizando os códigos em python.
Remark 2.11.
Os produtos matriciais \(AB\) e \(BA\) só fazem sentido se ambas \(A\) e \(B\) são matrizes quadradas de mesma dimensão \(n \times n\text{.}\) Todavia \(AB \neq BA\) em geral.Checkpoint 2.12.
Defina matrizes \(3 \times 3\text{,}\) \(A, B\text{,}\) tais que \(AB \neq BA\) e calcule \(AB\) e \(BA\text{.}\) Em seguida comprove seus cálculos utilizando o computador.
Definition 2.13.
Seja \(A\) uma matrix \(m \times n\text{.}\) A transposta de \(A\text{,}\) denotada \(A^T\) é a matriz \(n \times m\text{,}\) \(B = (b_{ij})\) definida através de \(b_{ij} = a_{ji}.\text{.}\)
Example 2.14.
Para \(A = \begin{pmatrix} 1 \amp -1 \amp 2 \\ -2 \amp 4 \amp 3 \end{pmatrix}\text{,}\) a transposta é a matriz \(A^T = \begin{pmatrix} 1 \amp -2 \\ -1 \amp 4 \\ 2 \amp 3 \end{pmatrix}\text{.}\)
Para \(A = \begin{pmatrix} 1 \amp -1 \amp 2 \\ -2 \amp 4 \amp 3 \\ 2 \amp 1\amp -2\end{pmatrix}\text{,}\) a transposta é a matriz \(A^T = \begin{pmatrix} 1 \amp -2 \amp 2\\ -1 \amp 4 \amp 1\\ 2 \amp 3 \amp -2 \end{pmatrix}\text{.}\)
Para \(A = \begin{pmatrix} 1 \amp -1 \amp 2 \\ -1 \amp 4 \amp 3 \\ 2 \amp 3\amp -2\end{pmatrix}\text{,}\) a transposta é a matriz \(A^T = \begin{pmatrix} 1 \amp -1 \amp 2 \\ -1 \amp 4 \amp 3 \\ 2 \amp 3\amp -2 \end{pmatrix}\text{.}\)
Definition 2.15.
Se \(A = A^T\text{,}\) dizemos que \(A\) é uma matriz simétrica.
Theorem 2.16. Propriedades da transposta.
Dados \(\alpha \in \mathbb{R}\) e matrizes \(A, B\text{.}\) Então, se as operaçõesa seguir estiverem definidas (as dimensões das matrizes forem adequadas para permitir as operações), vale:
\(\displaystyle (A^T)^T = A, \)
\(\displaystyle (\alpha A)^T = \alpha A^T, \)
\(\displaystyle (A+B)^T = A^T+B^T, \)
\(\displaystyle (AB)^T = B^TA^T. \)
Proof.
Checkpoint 2.17.
Para cada uma das propriedades no Theorem 2.16, dê exemplos de constantes e matrizes para as quais as operações fazem sentido. Em seguida calcule o lado esquerdo e o lado direito de cada igualdade e verifique que o mesmo resultado é obtido. Verifique seua cálculos utilizando os códigos em python.
Definition 2.18.
A matrix identidade, \(I\text{,}\) \(n \times n\text{,}\) \(I=(\delta_{ij})\text{,}\) onde \(\delta_{ij} = 0\text{,}\) se \(i\neq j\text{,}\) e \(\delta_{ij} = 1\text{,}\) se \(i = j\text{.}\)
Theorem 2.19.
Sejam \(I\) a matriz identidade \(n \times n\text{,}\) \(A\) uma matriz \(m \times n\) e \(B\) uma matriz \(n \times r\)
\(\displaystyle AI = I, \)
\(\displaystyle IB = B. \)
Proof.
Definition 2.20.
Uma matrix \(A\text{,}\) \(n \times n\text{,}\) é inversível (também chamada de não singular) se existe uma matriz \(B\text{,}\) \(n \times n\text{,}\) tal que \(AB = BA = I\text{.}\) \(B\) é dita a matriz inversa de \(A\) e denotada \(A^{-1}=B\text{.}\)
Example 2.21.
Para \(A = \begin{pmatrix} 1 \amp -1\\ -2 \amp 4 \end{pmatrix}\) a inversa é matriz \(A^{-1} = \begin{pmatrix} 2 \amp 1/2 \\ 1 \amp 1/2 \end{pmatrix}\) pois \(AA^{-1}=A^{-1}A=I\text{.}\)
Para \(A = \begin{pmatrix} -1 \amp 2\\ 2 \amp 3 \end{pmatrix}\) a inversa é matriz \(A = \begin{pmatrix} -3/7 \amp 2/7\\ 2/7 \amp 1/7 \end{pmatrix}\) pois \(AA^{-1} = A^{-1}A=I\text{.}\)
Remark 2.22.
Se \(ad-bc \neq 0\text{,}\) então a matrizRemark 2.23.
Um sistema linear escrito na forma matricial \(A\vec{x} = \vec{b}\text{,}\) pode ser resolvido multiplicando à esquerda ambos os lados da equação por \(A^{-1}\text{,}\) se \(A\) é inversível:Checkpoint 2.24.
Escreva o sistema abaixo na forma matricial, \(A\vec{x} = \vec{b}\text{,}\) calcule \(A^{-1}\text{,}\) e resolva o sistema calculando \(\vec{x} = A^{-1}\vec{b}\text{.}\) Compare suas soluções com os resultados obtidos pelo método de Gauss-Jordan.
Checkpoint 2.25.
Escreva o sistema abaixo na forma matricial, \(A\vec{x} = \vec{b}\text{,}\) calcule \(A^{-1}\text{,}\) e resolva o sistema calculando \(\vec{x} = A^{-1}\vec{b}\text{.}\) Compare suas soluções com os resultados obtidos pelo método de Gauss-Jordan.
Subsection 2.3 Matrizes elementares
Checkpoint 2.26.
Observe as seguintes multiplicações matriciais e tente descrever o efeito que as matrizes à esquerda têm sobre as matrizes à direita.
\(\displaystyle \begin{pmatrix} 0 \amp 0 \amp 0\\ 0 \amp 1 \amp 0\\ 0 \amp 0 \amp 0 \end{pmatrix} \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 4\\ 3 \amp 9 \amp 27\\ -1 \amp -3 \amp -9 \end{pmatrix} = \begin{pmatrix} 0 \amp 0 \amp 0\\ 3 \amp 9 \amp 27\\ 0 \amp 0 \amp 0 \end{pmatrix}\)
\(\displaystyle \begin{pmatrix} 0 \amp 0 \amp 0\\ 0 \amp 0 \amp 0\\ 1 \amp 0 \amp 0 \end{pmatrix} \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 4\\ 3 \amp 9 \amp 27\\ -1 \amp -3 \amp -9 \end{pmatrix} = \begin{pmatrix} 0 \amp 0 \amp 0\\ 0 \amp 0 \amp 0\\ 1 \amp 2 \amp 4 \end{pmatrix}\)
\(\displaystyle \begin{pmatrix} 4 \amp 0 \amp 0\\ 0 \amp 0 \amp 0\\ 0 \amp 0 \amp 0 \end{pmatrix} \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 4\\ 3 \amp 9 \amp 27\\ -1 \amp -3 \amp -9 \end{pmatrix} = \begin{pmatrix} 4 \amp 8 \amp 16\\ 0 \amp 0 \amp 0\\ 0 \amp 0 \amp 0 \end{pmatrix}\)
\(\displaystyle \begin{pmatrix} 0 \amp 0 \amp 0\\ 0 \amp 0 \amp 0\\ -1 \amp 0 \amp 0 \end{pmatrix} \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 4\\ 3 \amp 9 \amp 27\\ -1 \amp -3 \amp -9 \end{pmatrix} = \begin{pmatrix} 0 \amp 0 \amp 0\\ 0 \amp 0 \amp 0\\ -1 \amp -2 \amp -4 \end{pmatrix}\)
Checkpoint 2.27.
Observe as seguintes multiplicações matriciais e tente descrever o efeito que as matrizes à esquerda têm sobre as matrizes à direita.
\(\displaystyle \begin{pmatrix} 0 \amp 0 \amp 1\\ 0 \amp 1 \amp 0\\ 1 \amp 0 \amp 0 \end{pmatrix} \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 4\\ 3 \amp 9 \amp 27\\ -1 \amp -3 \amp -9 \end{pmatrix} = \begin{pmatrix} -1 \amp -3 \amp -9\\ 3 \amp 9 \amp 27\\ 1 \amp 2 \amp 4 \end{pmatrix}\)
\(\displaystyle \begin{pmatrix} 1 \amp 0 \amp 0\\ 0 \amp 1 \amp 0\\ 0 \amp 0 \amp 5 \end{pmatrix} \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 4\\ 3 \amp 9 \amp 27\\ -1 \amp -3 \amp -9 \end{pmatrix} = \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 4\\ 3 \amp 9 \amp 27\\ -5 \amp -15 \amp -45 \end{pmatrix}\)
\(\displaystyle \begin{pmatrix} 1 \amp 0 \amp 0\\ 0 \amp 1 \amp 0\\ 0 \amp 1 \amp 1 \end{pmatrix} \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 4\\ 3 \amp 9 \amp 27\\ -1 \amp -3 \amp -9 \end{pmatrix} = \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 4\\ 3 \amp 9 \amp 27\\ 2 \amp 6 \amp 18 \end{pmatrix}\)
\(\displaystyle \begin{pmatrix} 1 \amp 0 \amp 0\\ 2 \amp 1 \amp 0\\ 0 \amp 0 \amp 1 \end{pmatrix} \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 4\\ 3 \amp 9 \amp 27\\ -1 \amp -3 \amp -9 \end{pmatrix} = \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 4\\ 5 \amp 13 \amp 25\\ -1 \amp -3 \amp -9 \end{pmatrix}\)
Uma matriz elementar do tipo I é obtida trocando duas linhas da matriz identidade \(I\text{.}\) Com frequência denotamos uma matriz elementar do tipo I por \(E_1\) ou \(T_{ij}\) para indicar que trocamos a linha \(i\) pela linha \(j\text{.}\) Multiplicar uma matriz \(A\) por \(E_1\) à esquerda, ou seja, calcular \(E_1A\text{,}\) tem o efeito de trocar as duas linhas da matriz \(A\) correspondentes às linhas trocadas na matriz \(I\text{.}\)
Example 2.28.
Uma matriz elementar do tipo II é obtida multiplicando uma linha da matriz identidade \(I\) por uma constante não nula. Com frequência denotamos uma matriz elementar do tipo II por \(E_2\) ou \(D_{i}(\alpha)\) para indicar que multiplicamos a linha \(i\) por \(\alpha\text{.}\) Multiplicar uma matriz \(A\) por \(E_2\) à esquerda, ou seja, calcular \(E_2A\text{,}\) tem o efeito de multiplicar pela constatne a linha da matriz \(A\) correspondente.
Example 2.29.
Uma matriz elementar do tipo III é obtida somando uma linha da matriz identidade \(I\) a uma outra linha multiplicada por uma constante não nula. Com frequência denotamos uma matriz elementar do tipo III por \(E_3\) ou \(U_{ij}(\alpha)\) para indicar que somamos a linha \(i\) multiplicada por \(\alpha\) à linha \(j\text{.}\) Multiplicar uma matriz \(A\) por \(E_3\) à esquerda, ou seja, calcular \(E_3A\text{,}\) tem o efeito de adicionar a linha da matriz \(A\) outra linha multiplicada por uma constante.
Example 2.30.
Remark 2.31.
Multiplicar por uma matriz elementar à esquerda corresponde a realizar uma das operações elementares nas linhas da matriz \(A\text{.}\)Theorem 2.32.
As matrizes elementares do tipo I, II e III são inversíveis. Além disso
Proof.
Checkpoint 2.33.
Encontre as inversas das matrizes a seguir e verifique que a resposta está correta calculando o produto da matriz original com a matriz inversa.
\(\displaystyle E_1 = \begin{pmatrix} 0 \amp 0 \amp 1\\ 0 \amp 1 \amp 0\\ 1 \amp 0 \amp 0 \end{pmatrix}.\)
\(\displaystyle E_2 =\begin{pmatrix} 1 \amp 0 \amp 0\\ 0 \amp 1 \amp 0\\ 0 \amp 0 \amp 5 \end{pmatrix}. \)
\(\displaystyle E_3 = \begin{pmatrix} 1 \amp 0 \amp 0\\ 0 \amp 1 \amp 0\\ 0 \amp 1 \amp 1 \end{pmatrix}. \)
Se for possível realizar operações nas linhas de uma matriz \(A\) até transformá-la na identidade, existem matrizes elementares \(E_1, E_2, \ldots, E_k\) (correspondentes às operações realizadas) tais que:
ou seja, ao multiplicar \(A\) por \((E_k \ldots E_2 E_1)\) à esquerda obtemos a identidade. Assim \(A^{-1} = E_k \ldots E_2 E_1\text{.}\)
Por outro lado, observe que se calcularmos o produto de \((E_k \ldots E_2 E_1)\) com a matriz ampliada \((A|I)\) temos:
Ou seja, ao aplicarmos eliminação de Gauss-Jordan à matriz ampliada \((A|I)\text{,}\) obteremos a inversa de \(A\) no lado direito, quando tivermos a matriz identidade \(I\) no lado esquerdo.
Checkpoint 2.34.
Utilize o método da Gauss-Jordan para encontrar as inversas das matrizes a seguir, se possível:
\(\displaystyle A = \begin{pmatrix} 1 \amp 1 \amp -1 \\ -2 \amp 1 \amp -1\\ 0 \amp 1 \amp 1\end{pmatrix},\)
\(\displaystyle B = \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 1 \\ -1 \amp 1 \amp -1\\ -2 \amp 0 \amp 2\end{pmatrix},\)
\(\displaystyle C = \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 1 \\ -1 \amp 1 \amp -1\\ 0 \amp 3 \amp 0\end{pmatrix},\)
\(\displaystyle D = \begin{pmatrix} 1 \amp 2 \amp 1 \amp 2 \\ -1 \amp 1 \amp -1 \amp 1\\ -2 \amp 0 \amp 2 \amp 0 \\ 1 \amp -1 \amp -1 \amp 1 \end{pmatrix}.\)
Checkpoint 2.35.
Verifique, calculando o produto, que as matrizes obtidas no exercício anterios são, de fato, inversas.
Subsection 2.4 Determinantes
Definition 2.36.
Seja \(A = (a_{ij})\) uma matriz \(n \times n\text{.}\) A submatriz \(M_{ij}\) é a matriz \((n-1) \times (n-1)\) obtida removendo a \(i\)-ésima linha e a \(j\)-ésima coluna de A. Definimos, recursivamente, o determinante de \(A\text{,}\) \(\det(A)\) ou \(|A|\text{,}\) por:
Se \(A\) é uma matriz \(1 \times 1\text{,}\) \(A = (a_{11})\text{,}\) \(\det(A) = a_{11}\text{.}\)
Supondo que está definido o determinante de uma matriz \((n-1)\times(n-1)\text{,}\) definimos o determinante de uma matriz \(A\text{,}\) \(n \times n\text{,}\) como:
Para cada \(1 \leq i,j \leq n\text{,}\) chamamos o número \(A_{ij} = (-1)^{i+j}\det(M_{ij}),\) de cofator do elemento \(a_{ij}\text{.}\) A soma acima é chamada de expansão em cofatores pela primeira linha de \(A\text{.}\)
Example 2.37.
Seja
Example 2.38.
Seja
Example 2.39.
Seja
Example 2.40.
Seja
Theorem 2.41.
O determinante de uma matriz pode ser calculado através da expansão em cofatores por qualquer linha ou por qualquer coluna de \(A\text{:}\)
para qualquer \(i = 1, 2, \ldots, n.\)
Proof.
Example 2.42.
Seja
Checkpoint 2.43.
Calcule o determinante de cada uma das matrizes a seguir duas vezes, utilizando a expansão em cofatores da linha \(2\) e da coluna \(3\text{.}\) Após utilize o código abaixo para conferir seus resultados.
Theorem 2.44. Propriedades do determinante.
Seja \(A\) uma matriz \(n \times n\text{:}\)
Se trocarmos duas linhas de \(A\) de lugar, o determinante troca de sinal, ou seja: \(\det(T_{ij}A) = - \det(A)\text{.}\)
Se multiplicamos uma linha de \(A\) por uma constante não nula, o determinante é multiplicado por \(\alpha\text{,}\) ou seja: \(\det(D_{i}(\alpha)A) = \alpha \det(A)\text{.}\)
Se somamos a uma linha de \(A\) outra linha multiplicada por uma constante, o determinante não se altera, ou seja: \(\det(U_{ij}(\alpha)A) = \det(A)\text{.}\)
\(\det(A) = \det(A^T)\text{.}\)
Se \(A\) tem duas linhas ou duas colunas iguais, \(\det(A) = 0\text{.}\)
Se \(A\) tem uma linha nula ou uma coluna nula, \(\det(A) = 0\text{.}\)
Se \(B\) é uma matriz \(n \times n\text{,}\) \(\det(AB) = \det(A)\det(B)\text{.}\)
Proof.
Checkpoint 2.45.
Para cada uma das propriedades acima, construa exemplos de matrizes \(3 \times 3\) verificando que as propriedades se aplicam. Verifique seus cálculos utilizando os códigos em python disponibilizados.
Remark 2.46.
Chamamos de adjunta de uma matriz \(A\text{,}\) e denotamos \(\mbox{adj}(A)\text{,}\) à matriz de cofatores de \(A\) transposta.Theorem 2.47.
Uma matriz \(A\) é inversível se, e somente se, \(\det(A) \neq 0\text{.}\) Além disso, se \(A\) é inversível,
Proof.
Example 2.48.
Cálculo da matriz inversa utilizando a matriz de cofatores:
Checkpoint 2.49.
Calcule as inversas das matrizes a seguir pelo método dos cofatores e utilize o código abaixo para verificar se suas respostas estão corretas.
Subsection 2.5 Aplicação: mensagens codificadas
Mandar mensagens em código é fundamental na sociedade moderna. Não queremos que nossas mensagens privadas sejam vistas por estranhos na internet, que eles tenham acesso a imagens privadas, dados pessoas ou informações detalhadas sobre nossa saúde. A privacidade de outras informações é relevante por questões de segurança, como dados financeiros (incluindo senhas), endereços e outras.
Existem diversas formas de codificar mensagens. A maneira mais simples seja, talvez, simplesmente trocar letras por números (na lista abaixo \(\_\) representa um espaço):
Assim a mensagem SEGUE O BARCO seria codificada por [19., 5., 7., 21., 5., 0., 15., 0., 2., 1., 18., 3., 15.]. O código abaixo pode ser utizado para codificar uma mensagem assim.
Podemos desfazer essa operação com o código a seguir:
Checkpoint 2.50.
Escreva uma mensagem curta (pode ser uma palavra apenas), converta a mensagem em números manualmente e verifique que os "outputs" dos códigos acima correspondem ao que você obteve para a sua mensagem.
Esse código seria fácil de ser quebrado, podemos melhorá-lo se embaralharmos as letras. Para isso precisamos criar um mapa que troca as posições dos números na lista \(0, 1, 2, \ldots, 26\text{.}\) Uma maneira de fazer isso é multiplicar o vetor coluna \((0, 1, 2, \ldots, 26)^T\) por uma matriz de permutação, que é obtida trocando linhas das matriz identidade. Por exemplo, para trocar as posições das letras \(({\_}, A, B, C, D)\) para \((B, {\_}, A, D, C)\) multiplicamos à esquerda o vetor \((0, 1, 2, 3, 4)^T\) pela matriz de permutação \(P \) a seguir, obtendo o vetor \(\vec{b}\) indicando a posição na lista dos símbolos \({\_}, A, B, C, D,\) respectivamente:
Desse modo a palavra "ABA", ficaria codificada como "[2, 0, 2]". Podemos fazer um código que codifique uma mensagem trocando letras do seguinte modo:
Remark 2.51.
A inversa de uma matriz de permutações é igual a sua transposta (isso não vale para qualquer matriz).Alguém que conheça a permutação que utilizamos pode desfazer a codificação multiplicando à esquerda o vetor \(\vec{b}\) pela inversa (= transposta, nesse caso) da matriz de permutação.
O código a seguir desfaz a permutação para decodificar a mensagem:
Checkpoint 2.52.
(Em dupla) Crie uma mensagem, codifique-a utilizando uma matriz de permutações e envie a matriz e a mensagem cifrada para um colega. Receba uma mensagem cifrada e a respectiva matriz de permutações de um colega e decodifique-a.
Outra maneira de tentar encriptar uma mensagem seria utilizar uma matriz para embaralhá-la. Começamos com uma mensagem, substituímos as letras por números, quebramos a lista de números em \(n\) linhas (preenchendo com zeros no final, se necessário). Multiplicamos à esquerda o resultado por uma matriz \(n \times n\) inversível (conhecida pelo remetente (nós) e pelo destinatário). O destinatário multiplica à esquerda o dado enviado e pode desfazer o código.
Por exemplo, a palavra \(CARRO\) seria codificada como \([3, 1, 18, 18, 15]\text{,}\) que poderia ser quebrada em 3 linhas formando a matriz
Os códigos a seguir prepara a mensagem para enviar.
O código a seguir desfaz multiplicação matricial e decodifica a mensagem:
Checkpoint 2.53.
(Em dupla) Crie uma mensagem, codifique-a utilizando uma matriz secreta \(A\) e envie a matriz e a mensagem cifrada para um colega. Receba uma mensagem cifrada e a respectiva secreta de um colega e decodifique-a.
Subsection 2.6 Decomposição LU
Definition 2.54.
Uma matriz \(A\) é dita triângular superior se \(a_{ij} = 0\) para \(i \gt j \text{.}\)
Uma matriz \(A\) é dita triângular inferior se \(a_{ij} = 0\) para \(i \lt j \text{.}\)
Dizemos que \(A\) é triângular se ela for triângular superior ou triângular inferior.
Uma matriz \(A\) é dita diagonal se \(a_{ij} = 0\) para \(i \neq j \text{.}\)
Example 2.55.
Matrizes triangulares inferiores:
Example 2.56.
Matrizes triangulares superiores:
Example 2.57.
Matrizes diagonais:
Example 2.58.
Todas as matrizes dos três exemplos anteriores são triângulares.
Muitas matrizes podem ser decompostas como o produto de uma matriz triângular inferior \(L\) e uma matriz triângular superior, \(U.\) Observe que, por exemplo, a matriz
é igual ao produto das matrizes:
Lemma 2.59.
O produto de duas matrizes triângulares superiores é uma matriz triângular superior.
O produto de duas matrizes triângulares inferiores é uma matriz triângular inferior.
O produto de duas matrizes diagonais é uma matriz diagonal.
Proof.
Vamos realizar operações elementares do tipo III na matriz a seguir para "transformá-la" em uma matriz triângular superior.
Todavia as operações elementares realizadas têm o mesmo efeito que multiplicar pelas seguintes matrizes elementares.
Ou seja, encontramos que \(U = E_3E_2E_1 A\text{,}\) o que é equivalente à \(E_1^{-1}E_2^{-1}E_3^{-1} U = A\text{.}\) Todavia:
Assim, \(A = LU\text{,}\) com:
Checkpoint 2.60.
Escreva a matriz a seguir como o produto de uma matriz triângular inferior e uma matriz triângular superior.
Checkpoint 2.61.
Escreva a matriz a seguir como o produto de uma matriz triângular inferior e uma matriz triângular superior.
Se temos um sistema linear escrito na forma matricial \(A\vec{x} = \vec{b}\) e temos a decomposição \(A = LU\text{,}\) podemos definir \(\vec{y} = U \vec{x}\) e resolver
onde a solução de cada um desses sistemas é encontrada, simplesmente, por substituição reversa.
Vamos resolver o exemplo.
Checkpoint 2.62.
Resolva o sistema linear utilizando decomposição LU:
Checkpoint 2.63.
Resolva o sistema linear utilizando decomposição LU:
Infelizmente nem toda a matriz pode ser decomposta em \(A = LU\text{.}\) Existe uma variante desse método, chamada de decomposição \(PA = LU\text{,}\) onde \(P\) é uma matriz de permutação. Nesse caso, para resolver \(A\vec{x} = \vec{b}\text{,}\) multiplicaríamos por P ambos os lados e teríamos \(LU = PA \vec{x} = P\vec{b}\text{.}\) Que pode ser resolvido pelo método acima.